*Exemplo*

Não há modo de mandar,ou ensinar mais forte e suave do que o exemplo :
Persuade sem retórica,reduz sem porfia,convence sem debate,todas as dúvidas desata,e corta caladamente todas as desculpas.
Pelo contrário fazer uma coisa e mandar ou aconselhar outra, é querer endireitar a sombra de cara torcida.

By Padre Manuel Bernardes
*Séc XVII*

(*)
Buried at Photocasket.com

*O Julgamento *

Havia numa aldeia um velho muito pobre, mas até Reis o invejavam, pois ele tinha um lindo cavalo branco.
Reis ofereciam quantias fabulosas pelo cavalo, mas o homem dizia:
- "Este cavalo não é um cavalo para mim, é uma pessoa. E como se pode vender uma pessoa, um amigo?" O homem era pobre, mas jamais vendeu o cavalo.
Numa manhã descobriu que o cavalo não estava na cocheira. A aldeia inteira reuniu e disseram: "Se velho estúpido! Sabíamos que um dia o cavalo seria roubado. Teria sido melhor vendê-lo. Que desgraça!"
O velho disse: "Não cheguem a tanto. Simplesmente digam que o cavalo não está na cocheira. Este é o facto; o resto é julgamento. Se se trata de uma desgraça ou de uma bênção, não sei, porque este é apenas um fragmento. Quem pode saber o que vai se seguir?"
As pessoas riram do velho. Elas sempre souberam que ele era um pouco louco. Mas quinze dias depois, de repente, numa noite, o cavalo voltou. Ele não havia sido roubado, ele havia fugido para a floresta. E não apenas isso, ele trouxera uma dúzia de cavalos selvagens consigo.
Novamente as pessoas se reuniram e disseram: "Velho, você estava certo. Não se trata de uma desgraça, na verdade provou ser uma bênção."
O velho disse: "Novamente vocês estão se adiantando. Apenas digam que o cavalo está de volta...quem sabe se é uma bênção ou não? Este é apenas um fragmento. Você lê uma única palavra de uma sentença - como pode julgar todo o livro?
Desta vez as pessoas não podiam dizer muito, mas interiormente sabiam que ele estava errado. Doze lindos cavalos tinham vindo...
O velho tinha um único filho que começou a treinar os cavalos selvagens. Apenas uma semana mais tarde, ele caiu de um cavalo e fracturou as pernas. Novamente as pessoas se reuniram, e mais uma vez julgaram. Elas disseram: "Você tinha razão novamente. Foi uma desgraça. Seu único filho perdeu as pernas, e na sua velhice ele era seu único amparo. Agora você está mais pobre do que nunca."
O velho disse: "Vocês estão obcecados por julgamentos. Não se adiantem tanto. Digam apenas que meu filho fracturou as pernas. Ninguém sabe se isso é uma desgraça ou uma bênção. A vida vem em fragmentos, mais que isso nunca é dado."
Aconteceu que, depois de algumas semanas, o país entrou em guerra , e todos os jovens da aldeia foram forçados a se alistar. Somente o filho do velho foi deixado para trás, porque era aleijado. A cidade inteira estava chorando, lamentando-se porque aquela era uma luta perdida e sabiam que a maior parte dos jovens jamais voltaria. Elas vieram até o velho e disseram: "Você tinha razão, velho - aquilo se revelou uma bênção. Seu filho pode estar aleijado, mas ainda está com você. Nossos filhos foram-se para sempre."
O velho disse mais uma vez: "Vocês continuam julgando. Ninguém sabe! Digam apenas que seus filhos foram forçados a entrar para o exército e que meu filho não foi. Mas somente Deus, a totalidade, sabe se isso é uma bênção ou uma desgraça."
Não julgue, porque dessa maneira jamais se tornará uno com a totalidade. Você ficará obcecado com fragmentos, pulará para as conclusões a partir de coisas pequenas. Quando você julga, você deixa de crescer. Julgamento significa um estado mental estagnado. E a mente sempre deseja julgar, porque em um processo é sempre arriscado e desconfortável.
Na verdade, a jornada nunca chega ao fim. Um caminho termina e outro começa, uma porta se fecha e outra se abre. Você atinge um pico; sempre existe um pico mais alto. Fique satisfeito de viver o momento e nele crescer...somente aqueles são capazes de caminhar a totalidade.

La Haula Ua La, Kuuita ila Billah Al Allah

*Desconheço o autor*
(*)


Buried at Photocasket.com

*As Pessoas Só Crescem ao Ritmo a que São Obrigadas*

Os jovens de agora parece que têm dificuldade em crescer. Não sei porquê. Se calhar as pessoas só crescem ao ritmo a que são obrigadas. Um primo meu, com dezoito anos, já tinha as insignías de auxiliar do xerife. Era casado e tinha um filho. Tive um amigo de infância que, com a mesma idade, já tinha sido ordenado sacerdote baptista. Era pastor de uma igrejinha rural, muito antiga. Ao fim de uns três anos foi transferido para Lubbock e, quando disse às pessoas que se ia embora, elas desataram todas a chorar, ali sentadas no banco da igraja. Homens e mulheres, todos em lágrimas. Tinha celebrado casamento, baptizados, funerais. Com vinte e um anos, talvez vinte e dois. Quando pregava os seus sermões, a assistência era tanta que havia gente de pé no adro a ouvir. Fiquei espantado. Na escola ele era sempre tão calado.

(...) A Loretta contou-me que ouviu falar na rádio de uma certa percentagem de crianças deste país que está a ser criada pelos avós. Já não me lembro do número. Era bastante alto, pareceu-me. Os pais não querem ter esse trabalho. Conversámos sobre isso. Demos connosco a pensar que quando a próxima geração crescer e também já não quiser criar os filhos, quem é que vai tomar essa tarefa a seu cargo? Os pais deles vão ser os únicos avós disponíveis e nem os próprios filhos quiseram criar. Não encontrámos resposta para isto.

Cormac McCarthy, in 'Este País Não É para Velhos'

(*)

Buried at Photocasket.com