*O Desejo de Ser Sincero é Superficial*

O desejo de ser sincero é superficial. Não é por acaso que muitos dos romances entre os últimos aparecidos são escritos na primeira pessoa, de modo a que o eu repetido e disseminado ao longo das páginas produza uma sensação de algo muito próximo a uma lembrança, a uma confissão, a um diário. Não é também por acaso que neles se evita com muito cuidado o enredo ou de certa forma tudo o que possa parecer invenção; e que se narre os factos com garra jornalística, como coisa que realmente tivesse acontecido. A sinceridade, no seu estrito sentido, não suporta a narração objectiva que é um princípio de artifício nem a invenção que em todas as ocasiões pode parecer falsa.

A sinceridade parece-se muito com o mar em certos dias. Há manhãs de tanta bonança que se andamos de barco e nos inclinamos para contemplar a água debaixo de nós, tem-se a impressão de que estamos suspensos sobre transparentes e tangíveis precipícios. A água, por muito profunda que seja, não se opõe a que se olhe a prumo para baixo e se veja, numa claridade esverdeada, o fundo areoso espargido de seixos e de trigueiras céspedes. Nasce então uma espécie de exaltação, deseja-se tocar aquele fundo que parece estar muito perto de nós. No entanto quando se mergulha, mesmo com todo o peso do nosso corpo e toda a força da nossa impulsão só conseguimos penetrar na água um par de metros. Nem sequer afloramos aquela encantada e longínqua profundidade.

Alberto Moravia , in "O Homem Como Fim"
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*Escritores da Liberdade*


Um "Prémio" e ao mesmo tempo um desafio proposto por :
Mimo-te do Espaço...http://mimo-te.blogspot.com/

Diz a Mimo-te que

"Este mimo tem algo muito peculiar, uma vez que tem como objectivo permear os blogs com uma escrita livre. Não importa se são blogs com textos escritos por amadores ou profissionais, poetas ou simplesmente alguém que por qualquer motivo aqui está divulgando os seus pensamentos, gostos, dons, enfim o que quer que seja."

Assim sendo passo eu a referir que a minha escrita é totalmente livre, pois se assim não fosse não me sentiria bem a fazê-lo.Este espaço por exemplo foi criado para pensar e reflectir, práticamente apenas cito textos de outrém , o que não quer dizer que um dia não passe a escrever pensamentos e reflexões de minha autoria, mas mesmo nos textos que escolho, faço-o livremente.
Há textos e textos, palavras e palavras...certos há que podem até de alguma forma magoar alguém mais sensivel,mas perdoem-me, se fosse a pensar assim... só se escreveriam coisas bonitas...coisas belas , e no mundo da escrita tudo vale,infelizmente até o insulto , quando se publica algo que por algum motivo alguém não gostou e aí, lá vem um comentário com palavras menos "bonitas" a enfeitar o mau caractér de alguns seres menos atenciosos , ou quem sabe atenciosos demais para o que não devem, mas até nesse momento a minha escrita é livre para responder adequadamente a tal.
Logo, considero a minha escrita livre, assumindo a responsabilidade da mesma em tudo o que escrevo e publico.
É pressuposto nomear 10 blogues e hoje vou fazê-lo.
Assim sendo são eles:

Dias http://diadoblog.blogspot.com/

Godess Night http://turbulenciasdoblog.blogspot.com/

Quintarino/Tiago R Cardoso e Silêncio Culpado( autores de) http://notassoltasideiastontas.blogspot.com/

C. Valente http://cvalente.blogspot.com/

Pena http://memoriasvivasereais.blogspot.com/

Flash http://aternurados40.blogspot.com/

Som do Silêncio http://silenciosentido.blogspot.com/

kakauzinha http://lakakau.blogspot.com/

António http://conheciment.blogspot.com/

Como já vai sendo hábito ,são livres de aceitar o desafio , ou não:))


Mimo-te , muito agradecida por este Momento , em que pude pensar e reflectir um pouco sobre este tema
Muitissimo Obrigada

Beijo Agradecido... em ti
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*A Impossibilidade de Renunciar*

Eu decido correr a uma provável desilusão: e uma manhã recebo na alma mais uma vergastada - prova real dessa desilusão. Era o momento de recuar. Mas eu não recuo. Sei já, positivamente sei, que só há ruínas no termo do beco, e continuo a correr para ele até que os braços se me partem de encontro ao muro espesso do beco sem saída. E você não imagina, meu querido Fernando, aonde me tem conduzido esta maneira de ser!... Há na minha vida um bem lamnetável episódio que só se explica assim. Aqueles que o conhecem, no momento em que o vivi, chamaram-lhe loucura e disparate inexplicável. Mas não era, não era. É que eu, se começo a beber um copo de fel, hei-de forçosamente bebê-lo até ao fim. Porque - coisa estranha! - sofro menos esgotando-o até à última gota, do que lançando-o apenas encetado. Eu sou daqueles que vão até ao fim. Esta impossibilidade de renúncia, eu acho-a bela artisticamente, hei-de mesmo tratá-la num dos meus contos, mas na vida é uma triste coisa. Os actos da minha existência íntima, um deles quase trágico, são resultantes directos desse triste fardo. E, coisas que parecem inexplicáveis, explicam-se assim. Mas ninguém as compreende. Ou tão raros...

Mário de Sá-Carneiro , in "Cartas a Fernando Pessoa"
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*A Sociedade é a Imagem do Homem*


O aperfeiçoamento da Humanidade depende do aperfeiçoamento de cada um dos indivíduos que a formam. Enquanto as partes não forem boas, o todo não pode ser bom. Os homens, na sua maioria, são ainda maus e é, por isso, que a sociedade enferma de tantos males. Não foi a sociedade que fez os homens; foram os homens que fizeram a sociedade.
Quando os homens se tornarem bons, a sociedade tornar-se-á boa, sejam quais forem as bases políticas e económicas em que ela assente. Dizia um bispo francês que preferia um bom muçulmano a um mau cristão. Assim deve ser. As instituições aparecem com as virtudes ou com os defeitos dos homens que as representam.

Teixeira de Pacoaes , in "A Saudade e o Saudosismo"
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*Amizade Sem Sinceridade*


Acredita-se ter encontrado um meio de tornar a vida deliciosa através da bajulação.
Um homem simples que apenas diz a verdade é visto como o perturbador do prazer público. Foge-se dele porque não agrada a ninguém; foge-se da verdade que ele enuncia, porque é amarga; foge-se da sinceridade que proclama porque apenas traz frutos selvagens; tem-se receio dela porque humilha, porque revolta o orgulho que é a mais estimada das paixões, porque é um pintor fiel que nos faz ver quão disformes somos.
Não admira que seja tão rara: em toda a parte (a sinceridade) é perseguida e proscrita.
Coisa maravilhosa, ela encontra a custo um refúgio no seio da amizade.
Sempre seduzidos pelo mesmo erro, só fazemos amigos para ter pessoas particularmente destinadas a nos agradarem: a nossa estima resume-se à sua complacência; o fim dos consentimentos acarreta o fim da amizade. E quais são esses consentimentos? O que é que mais nos agrada nos amigos? São os contínuos elogios que lhes cobramos como tributos.
A que se deve que já não haja verdadeira amizade entre os homens?
Que esse nome não seja mais do que uma armadilha que empregam com vileza para seduzir?
«É, diz um poeta (Ovídio), porque já não existe sinceridade.»
Com efeito, retirar a sinceridade da amizade é torná-la uma virtude teatral; é desfigurar essa rainha dos corações; é tornar quimérica a união das almas; é introduzir o artíficio no que há de mais santo e a perturbação no que há de mais livre.

Baron de Montesquieu, in "Elogio da Sinceridade"

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